segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Carlos Roberto Mantovani
Nascido em Laranjal Paulista, em 1950, e faleceu - devido a um câncer - em Sorocaba, em 2003. Mantovani foi dramaturgo, ator, diretor de teatro, artista plástico, dançarino, animador cultural e poeta. Seu nome, em homenagens póstumas, foi dado ao Espaço Cultural do Sindicato dos Metalúrgicos e ao Teatro de Arena, anexo ao Teatro Municipal de Sorocaba.
"Escritos Ordinários" é um livro que divide-se em dois momentos: os poemas, na primeira parte e, na segunda parte, fotos sobre as obras artísticas (pinturas, desenhos, criações variadas) e atividades culturais de Mantovani. Abrindo a obra, temos comentários, análises, dados biográficos e sobre a importância do autor, na visão dos seus amigos.
“As cicatrizes não estão nas faces,
putrefam por dentro
e expandem-se como um tumor maligno,
arrebentam sem permissão
o Seio e junto vai com ele o coração,
um coração ensangüentado
e o sangue não é o sangue que escorre,
são lágrimas que não vertem pelos olhos.”
(Mantovani)
“O dragão que me queima é o mesmo que me salva” assim exprime Carlos Roberto Mantovani em “Redundâncias”.
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Carlos Roberto Mantovani
ResponderExcluirNascido em Laranjal Paulista, em 1950, e faleceu - devido a um câncer - em Sorocaba, em 2003, ele foi dramaturgo, ator, diretor de teatro, artista plástico, dançarino, animador cultural e poeta. Seu nome, em homenagens póstumas, foi dado ao Espaço Cultural do Sindicato dos Metalúrgicos e ao Teatro de Arena, anexo ao Teatro Municipal de Sorocaba.
"Escritos Ordinários" é um livro que divide-se em dois momentos: os poemas, na primeira parte e, na segunda parte, fotos sobre as obras artísticas (pinturas, desenhos, criações variadas) e atividades culturais de Mantovani. Abrindo a obra, temos comentários, análises, dados biográficos e sobre a importância do autor, na visão dos seus amigos.
“As cicatrizes não estão nas faces,
putrefam por dentro
e expandem-se como um tumor maligno,
arrebentam sem permissão
o Seio e junto vai com ele o coração,
um coração ensangüentado
e o sangue não é o sangue que escorre,
são lágrimas que não vertem pelos olhos.” (Mantovani)
“O dragão que me queima é o mesmo que me salva” assim exprime Carlos Roberto Mantovani em “Redundâncias”.
A sua poesia e´um grande mural onde os flashes do cotidiano se sucedem em uma dinâmica própria, particular.
É um universo caracterizado pela observação e transformado, de meros fatos, em imagens altamente poéticas. A passagem do puro e ingênuo a profano e dramático é uma constante. O poeta transita facilmente nesses dois extremos, consciente das aberrações da vida, como também cônscio de sua atitude junto ao seu mundo.
Outras vezes é lírico, talvez para redimir a estranheza perante situações que desconhece. Nascido e vivido em cidade do interior, tem maior poder de dissecar seus personagens, pois os pequenos núcleos possuem a magia de manter coesos os fatos e de personalizá-los ainda mais.
É dessa vivência, quase fantasmagórica, que os personagens o visitam, fazendo parte do seu eu e, transformados em linguagem poética, renascem com imensa força. Resta saudar o poeta com boas-vindas e perguntar-lhe:-
“Como vai?” Ele, então, responderá: -
“Bem, apesar de mim”.
Porque o dragão que o queima é o mesmo que nos queima há séculos, vive entre nós e chama-se Poesia.
Para lembrar os sete anos do falecimento do diretor teatral e dramaturgo Carlos Roberto Mantovani, artistas sorocabanos prepararam uma programação especial de palestras e workshops gratuitos na Oficina Cultural "Grande Otelo" (praça Frei Baraúna), onde esse artista polivalente ensinou teatro antes de ter sua vida encurtada por um câncer, em maio de 2003 ("Canonizado pela cultura sorocabana - Sete anos após sua morte, Mantovani ainda estimula artistas da cidade", 1/5, pág. B4).
ResponderExcluirA semana de eventos iniciada ontem faz um balanço da produção de Mantovani, por meio de apreciações de sua obra efetuadas sob a ótica de pessoas que o conheceram ou que realizam criações artísticas convergentes com seu trabalho. É uma lembrança singela, mas que certamente agradaria mais ao "Manto" (cuja irreverência o aproximava, por natureza, de uma alegre iconoclastia) do que um monumento em praça pública ou algo semelhante.
Talvez seja cedo para um balanço do que Mantovani significou para a cultura sorocabana desde o período que vai de meados dos anos 70, quando se envolveu com a arte e chegou a atuar como bailarino em coreografias de Janice Vieira, até o momento em que, inesperada e prematuramente, saiu de cena, depois de dedicar toda sua energia ao teatro amador sorocabano.
O reconhecimento desse trabalho fez dele quase uma unanimidade. Em seu depoimento ao Projeto Memória da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), em setembro de 2006, o diretor teatral Gil Pinheiro de Mello, que dividiu com Mantovani a direção da peça "Gota D?água", de Chico Buarque de Hollanda, em 2000 (um sucesso estrondoso para os padrões locais, com oito mil espectadores ao longo de quatro meses de apresentações), recordou a homenagem prestada quando o corpo do amigo deixou a Oficina Cultural, onde fora velado: "Ele saiu debaixo de uma salva de palmas. Na praça em frente, que estava lotada, não se escutava um barulho. Só o choro das pessoas."
Muito mais do que a carinhosa reverência dos contemporâneos, entretanto, o que habilita Mantovani a um crédito excepcional como artista e como cidadão são os frutos de seu trabalho de formação cultural que, por todo o lado, podem ser percebidos. Em suas montagens com frescor experimental, Mantovani teve sempre a preocupação de reunir, aos nomes de veteranos dos palcos locais, os de dezenas de adolescentes que acabaram, praticamente sem exceção, fascinados pelo teatro, com a mesma intensidade e devoção quase religiosa que emanava do diretor.
Ao optar por trabalhar em sua comunidade, renunciando desde cedo à busca da fama nos palcos do eixo Rio-São Paulo ou nos meios de comunicação de massa, Mantovani identificou-se ideologicamente e ombreou em espírito revolucionário com outros artífices do teatro moderno, que se entregaram à dramaturgia mais como uma militância pessoal do que como uma profissão ou um meio de ganhar dinheiro. Logicamente, nem sempre foi compreendido por abraçar esta alternativa, tão mais sacrificada - porém tão mais livre e possível de ser praticada de forma inovadora - do que aquela oferecida pela indústria cultural.
Essa é a melhor lição a aprender com Carlos Roberto Mantovani, sem prejuízo de um balanço mais apurado que só o distanciamento histórico será capaz de proporcionar. Mantovani ensinou a beleza de ser um artista local, conectado sentimentalmente com sua cidade e sua gente, empenhado em mudar o mundo a partir de sua aldeia, importando-se mais com o tempo presente e com as revoluções possíveis do que com a posteridade, essa dama insondável. Abriu mão dos louros póstumos para ter em vida o que mais queria: respirar teatro. Mas não qualquer teatro. Seu teatro.
Fontes:
http://www.academiasorocabana.com.br/not002.htm
http://www.academiasorocabana.com.br/myr02.htm
http://oficiodeescrever.blogspot.com/2010_05_01_archive.html
http://www.sorocaba.com.br/noticia-detalhe/91.html