segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Anneth Santos

Blogue da autora: 
www.annethsantos.blogspot.com


Entrevista concedida pela autora a Paula Souza, em setembro de 2010. 

Quando e onde você nasceu?
18/08/1959 – Nasci em Governador Valadares , porém muito pequena fui para Peruibe, e depois de algum tempo, vim para Piedade.
Gosto de falar que sou Caiçara por Paixão, Piedadense por crescimento e de que não foi por acaso, e gosto de dizer que Peruibe foi meu primeiro amor marítimo.

Como você se sente em relação à cidade em que vive?
Embora tivesse conquistado o título de cidadã Piedadense, tive uma decepção muito grande em relação a Piedade, a minha timidez me impedia de ser anunciada, as portas não se abriam para mim, e me senti só, acabei fazendo um trabalho solitário, não sei se teria feito tudo o que eu fiz, se não tivesse obtido “tantas portas na minha cara”. E foi no Happening que encontrei a minha praia.

Solteira, casada, filhos? Como é o escritor em casa,  nas suas relações familiares?
Sou divorcida, em torno dos 26 anos, fugi da casa do meu marido, com uma filha na frente e outra atrás,  no dia em que fugi decidi que tinha que gostar de mim mesma. Meu marido tinha um certo preconceito comigo, dizia que meu cabelo era ruim, dizia que ele havia me dado um nome, coisa que nenhum outro branco faria, e cheguei até mesmo a sofrer violência do mesmo. Então a primeira coisa em que fiz quando sai de casa, foi cortar meu cabelo.
Em casa, a relação com minhas filhas é complicada, em 2006 lancei um livro “ Real (idade) nua e crua” em que posei nua, mas na hora em que terminou o lançamento, e que eu fui para aquele abraço, eu não o tive. Eu não tive  o apoio delas, eu fiquei naquele momento sentindo me só, pois o abraço que eu tanto queria, não obtive.

Fale um pouco sobre o amor em sua vida.
Sempre achei que nunca fui amada. Tive amor complicado em relação de meus pais comigo, meu pai sempre queria um filho homem, e nunca escondeu isso. Então cheguei a imaginar, que para ser realmente amada, eu deveria ter nascido homem. Sempre imaginei tinha uma dívida em relação ao amor, nunca sabia se eu amei de mais ou de menos. Então um fato até engraçado, é que todo dia antes de sair trabalhar, se eu não conseguisse dizer as minhas filhas que as amava, eu deixava uma declaração de amor junto ao despertador e colocava cada dia em um lugar diferente, essa foi a maneira de mostrar a elas, que eu sempre as amei.

Você vive de literatura?
Sim, eu vivo e muito de literatura. Eu invento paixões. Mas não paixões dessas bobas, a cada dia eu planejo estar apaixonada pelas coisas em que tenho que fazer, apaixonada pelas coisas, assim eu sempre tenho uma paixão diferente pela vida. “Eu sou apaixonada pela vida, e todo dia eu procuro uma razão diferente para me apaixonar”.

Quando você começou a escrever e o que te levou a isso?
Começei no dia em que me apaixonei por poesia , estava na 3° serie e nós tinhamos um almanaque na sala, e foi lá meu primeiro contato. Meu pai fazia minha mãe enumerar as folhas do meu caderno para que eu não tirasse as folhas, e então usava as folhas do calendaria para escrever e levar a minha professora, até que um dia ela me disse: “ Quando não tiver folha, escreva nos rodapés, que um dia, alguem vai lêr”.
Quais são seus autores prediletos?
Jorge Amado, pela fato de suas mulheres serem sempre tão briguentas, gruerreiras e ao mesmo tempo muito sensuais.
Eliza Lucinda, por ter um trabalho tão semelhante ao meu, mesmo sem eu saber, e sem ter a conheçido antes.
Marta Medeiros, essa é simplismente de tirar o chapéu.

Que obra você citaria como seu livro de cabeçeira?
O Futuro da Humanidade – Augusto Cury, esse não é de auto ajuda, pelo contrario, ele mostra um lado da vida, em que agente não repara, não vê no nosso dia a dia.

O que você acha da sua Obra?
Ainda acho que ela é um tanto fraca,  mas ainda está caminhando, sou aprendiz. Sempre leio, leio de novo, a visão de quem lê faz a diferença, pois a minha visão é diferente, como no meu livro, eu que vivi cada palavra dele.

Como surge um poema?
Surge das coisas em que vejo, encontro uma coisa por aqui e acaba virando um poema. Como o primeiro beijo da minha filha, em que acabei o reescrevendo. O amor alheio, a vida alheia, a dor alheia, tudo isso acaba virando realidade, acaba virando poema.

O que a inspira? E o que acha que define seus poemas?
O universo femino. Eu sou muito engajada, sempre quis ser assim. Tenho um encantamento da realidade em que vivi, tenho vontade de querer mudar, de vêr a realidade diferente, de vêr os absurdos de lado, acho que isso, você encontra muito em meus textos.

Alguma experiência engraçada, curiosa ou até mesmo dramática por causa de um texto seu?
Você descreve muitas vezes o que é alheio, e as pessoas confundem. Em uma apresentação em que fiz do meu texto “Frigidez”, a pessoa perguntou se eu era frígida. Pelo amor, chega um homem de 2m de altura atras de você, você está quieta. Ele passa as unhas de leve na sua nuca e eu sou frígida? Risadas.

Vida e obra precisam caminhar juntas ou podem tomar rumos diferentes?
Na escrita acredito que sim, meus versos muitas vezes me irritam, por que eles me levam a poesia, são tão geniosos. Os meus versos batem em portas diferentes, sem que eu mesma saiba. Eu (Anneth) sou única. Muitas vezes gosto de dizer, que somos feitos por dois Deuses totalmente diferentes.

Você escreve por missão, lazer, prazer ou como condição de sobrevivência?
Eu escrevo para protestar, quero um grito mais potente, quero ser ouvida, compreendida. Eu mesma não sei fazer um soneto, escrevo sem rima, chamamos isso de versos brancos. “Meus textos não são para a Elite literária, são para quem tem interesse literário”.


Com que você, enquanto autor, tem compromisso?
Tenho compromisso em fazer com que as pessoas queiram ler, acredito que no Brasil as pessoas não têm vontade de ler. “ Quem mal lê, mal fala, mal ouve, mal vê!”.

Você acredita que a internet, influenciou sua escrita?
Não, acredito que não. Vejo a internet, como um meio muito poderoso, muito bom mesmo. Tudo o que você usa, de uma forma boa, vai te trazer boas coisas.

Que qualidade considera fundamental em um escritor?
A simplicidade, valorizar o simples, estamos em uma época em que valorizam muito a fama, os bens. Temos que usar o que nós temos para provocar uma ação, uma provocação.

Que ambiente ou horario lhe são mais propícios para seu fazer literário?
Ficar quetinho é essencial, num canto, só você e assim você vai construindo , mas cada coisa, cada momento muda, e são unicos.

Alguma bibliografia? Livro publicado? Publicado na internet? Onde?
Tenho a minha bibliografia no livro aqui em Piedade da cidade escolar. Na internet você encontra algumas de minhas obras, tenho um livro que publiquei a pouco tempo na Bienal também. E um livro que fiz em 1995, porém não gostei dele, e hoje o que restou, está na reciclagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário